domingo, maio 25, 2014

Meditação no Livro de Jó

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Jó, ladeado por Zofar (E), Bildade, Elifaz e Edliú (D)
João Cruzué

Fiz algumas anotações a partir do capítulo 31 do Livro de Jó, disposto a entender o longo discurso do jovem Eliú. Durante este tempo de meditação, comecei a perceber a grande fragilidade da justiça humana perante a justiça de Deus. É com muito gosto que desejo compartilhar meus achados com você, e o principal deles é que nada tenho feito daquilo que poderia planejar para fazer e isto me preocupa.

No capítulo 31, Jó colocou diante dos próprios olhos o caráter  de uma vida inteira. Aqui ele passou em revista as principais regras sociais e morais de um crente em JEOVÁ da sua época: O cuidado com o olhar, e a vigilância atenta contra os enganos de um coração que poderia se inclinar para o adultério à porta da casa do próximo. O zelo pelos direitos trabalhistas dos servos, o negar de um desejo de comida dos pobres, ou uma palavra não, diante dos olhos de uma viúva aflita. O prazer de um bom prato, sem a menor lembrança da necessidade daquele órfão. A indiferença diante da nudez e a não preocupação com aqueles que estão no relento nos dias de frio.

Mas, nada encontrou.

E, continuava Jó fazendo um check-list do compliance sobre a lista de normas de comportamento e da moral de sua época. A análise da qualidade de seu cobertor de pele de cordeiro diante da cobertura de frio de um desamparado. Jó procurou nos recônditos de sua memória se algum dia enxotou de sua porta alguém que veio lhe pedir um auxílio. Depois avaliou o comportamento do seu coração diante do ouro e do celeiro de uma grande fazenda. Examinou se seu coração não andou adorando o sol e a lua, desprezando o Deus Todo Poderoso. 

Mas, nada encontrou.

Jó também procurou em sua vida encontrar um momento onde se alegrou com a desgraça de algum inimigo seu, e se gargalhou quando o mal atingiu a casa de seus adversários. Checou nas anotações da sua memória se por ventura, algum dia, deixou de dar pousada ao estrangeiro e ao estranho que passava a noite na rua. Considerou também se não caiu no pecado de Adão, que pecou,  se escondeu, e pois a culpa em Deus por lhe ter dado aquela mulher. E por fim considerou se havia comido do começo da colheita do produtor prometendo pagar no futuro, sem nunca ter pagado e entristecendo com isto a alma de quem trabalhou.

Mas, no seu coração nada encontrou de injustiça, e assim termina o capítulo 31.

Nos capítulos 32 até o 37, um novo personagem aparece: o jovem Eliú, falando, repreendendo e acusando a Jó Durante seis capítulos inteiros. Falou mais que os quatro capítulos de Elifaz, o mais velho dos amigos de Jó. Mais que os três capítulos de Bildade e mais que os dois capítulos de Zofar. Eliú comparou a sua língua a um odre novo cheio de mosto pronto para estourar.

O curioso é que as palavras de Eliú, na maioria das vezes passam pelo terreno da sabedoria e, subitamente ele aparece dizendo coisas desta natureza: Os grandes não são os sábios nem os velhos entendem o que é reto. Na verdade, há um espírito no homem, e a inspiração do Todo-Poderoso os faz entendidos. Minha intuição diz que ele estava sendo muito presunçoso. Nas entrelinhas, estava dizendo que ele era inspirado pelo Todo Poderoso, por isto era mais sábio que a sabedoria dos três amigos de Jó.

Disse mais à frente para Jó que fora Deus quem o havia derrubado, e não homem algum. Ao falar nisso, ficou notório que a inspiração de Deus, que dizia, ter era falha. Neste ponto é que mora um grande perigo de sermos seguidores de falsos líderes religiosos. Durante 90% do discurso nós ouvidos obviedades acacianas. Nos 10% que não estamos atentos, vem o fermento maligno que pode desviar do caminho. Se Eliú fosse de fato inspirado por Deus, saberia que não fora Deus que derrubara Jó, mas o diabo. A presunção leva à soberba, e a soberba é um pecado mortal.

No capítulo 34;11, Eliú voltou a bater na mesma tecla dos três amigos de Jó, sobre a lei moral da semeadura: Porque, segundo a obra do homem, Ele lhe paga; e faz que cada um ache segundo o seu caminho. E continuou Eliú nos vv. 35 e 36: "Jó falou sem ciência, e às suas palavras falta prudência. Pai meu! Provado seja Jó até o fim, pelas suas respostas de homens malignos"

No capítulo 38, Deus aparece falando com Jó. Não houve resposta de Jó para Eliú. Também não há mais menção dele nos capítulos restantes do livro. Deus ficou irado com o comportamento e as palavras do três amigos de Jó, todavia, nem citou o nome de Eliú. Muito interessante! Foi o que mais falou e nada ouviu como réplica. A única resposta que encontrei foi esta: Quando alguém diz que fala pelo Espírito de Deus, sem que isto seja verdade, seu coração está morto no engano que teve origem na presunção e na soberba.

Quanto a Jó, depois dos conselhos misturados com agressões gratuitas, alcançou a graça de Deus. O Deus Todo-Poderoso, primeiro confrontou a ciência de Jó no capítulo 39. E Jó descobriu que sabia muito pouco das obras da criação de Deus. Mas, Deus não disse a Jó nem uma palavra sobre sua situação miserável.

No capítulo 40, Jó experimentou que sua justiça era como nada diante da glória de Deus: "Eis que sou vil, que te responderia eu? A minha mão ponho na minha boca". E Deus continuou falando das grandezas de sua criação. E Deus foi crescendo em profundidade diante dos olhos de Jó.

No capítulo 42, Jó se humilha e diz: "Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido". Entretanto é nos versículo 5 e 6 que Jó chega a consciência da sua nano justiça  diante da incomensurável justiça de Deus: "Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza".

E foi assim, depois de ter perdido todo seu patrimônio, enterrado todos seus filhos, adoecido e ferido em carne viva por uma doença desconhecida, sofrido a ação de uma terrível lavagem cerebral e de ter ouvido a falsa sabedoria de um jovem presunçoso, que Jó teve um encontro com Deus. O Deus Todo-Poderoso que ele conhecia de ouvidos, se tornou visível diante de seus olhos. E quando Jó ficou diante da presença de Deus, ele teve a exata medida da justiça humana: um nada, diante da santidade de Deus.

Em nenhum momento Deus julgou necessário dizer a Jó que por trás de todas aquelas desgraças estava um diabo invejoso. Se tivesse feito isso, Jó poderia ter se transformado em um caçador de demônios e perderia todo o seu tempo com  foco apenas em demônios e deixando as coisas mais importantes por fazer. Como não dissera nada, Jó nada soube a não ser que deveria orar por  três amigos enrascados.  

Depois disso, Deus virou o cativeiro de Jó. Ele teve uma nova família com  sete filhos e três filhas e um patrimônio dobrado. E para não começar do zero, Deus tocou no coração de todos os parentes e conhecidos que foram até sua casa com presentes de valor para se alegrarem com Jó.

Final: Deus ainda não apareceu diante dos meus olhos. Talvez isto nunca aconteça. Mas, já estou bem ciente de que por mais santo e justo que eu seja, não vou conseguir ficar de pé ou vivo diante da presença Dele.





Um comentário:

Ana Holsbach disse...

Excelente meditação a respeito do tema. Um olhar abrangente, sem partidarismo. Deus te abençoe